sexta-feira, 12 de março de 2010

Do animal como souvenir

Por que você não fica por aí um dia inteiro, pra ver como é ruim?


Há quem diga que gostar de ler é um dom, uma espécie de predestinação. Mas eu acho que se ninguém apresentar, de modo agradável, um livro a uma criança, ela nada descobrirá. Da mesma forma, não vejo como amar e respeitar a natureza possa ser natural do ser humano. Não é.

Lembra dos índios? Em minha viagem à Amazônia conheci um. Fiquei besta com sua sabedoria “natural”, com a qualidade das suas informações, sobre ervas que curam, sobre sobreviver com pouco e bem. Ele não entende de motor de carro, do design avançado, sua mulher não sabe qual o vestido que lhe cai bem (até porque não precisa de um). Mas entendem de felicidade como poucos.

Este índio me falava de como aprendeu os segredos da selva com sua avó. Alguns, inclusive, passou pra mim, naquele momento. Fiquei honrada e feliz de estar ali. Um sentimento difícil de explicar.

Nosso personagem índio já foi criança. Aprendeu a viver da natureza (como não há outro jeito) e sabe que dependemos dela para absolutamente tudo. Como não respeitá-la? Um raciocínio lógico, simples, inteligente. Mas que muita gente esqueceu...

Outro dia conversava com um amigo (este da cidade), que me falava sobre a “hiperatividade” do seu filhinho. E como hoje em dia não há quintal de goiabeiras, nem outras crianças para fazer arte e reinações (porque brincar na rua é muito perigoso e de todo modo, você não encontra outras crianças brincando na rua), o pimpolho morria de tédio e acabava importunando os adultos que, sem saco, optaram por uma solução prática. Contrataram uma psicóloga, que “receitou” um animal de estimação.

Prescrição dada por um “profissional”, lá vai o pai no Pet Shop mais próximo, doido pra ver se o filho continha a curiosidade típica da idade – e que em outro contexto poderia ser bem saudável. Lá vem a vendedora de aventalzinho branco, que recomenda um cachorro ou uma calopsita (espécie de arara branca). Ora, o primeiro obriga os donos a exercitarem-se e tomar cuidados de higiene bem mais trabalhosos.

A ave era um filhote. Duas crianças presas e tristes, fazendo companhia um ao outro. Dois seres cujas asas foram cortadas. Triste destino, nascer ave e bonita. Triste destino, ser criança nos dias de hoje.

Lembrei da Amazônia e dos pássaros livres, voando pra lá e pra cá – e foi um dos espetáculos mais lindos que eu já vi. É engraçado como o homem esquece, quando aprisiona um animal selvagem, de tudo o que isso acarreta. Ele está, simplesmente, ajudando a acabar com o mundo – mundo este que vai ficar para os seus filhos “de asas cortadas”. E com as espécies. Tudo por um capricho efêmero. Como se tudo estivesse à venda. Como se nada sentisse fome, solidão, sede ou frio.

Deste modo, fica difícil as crianças de hoje respeitarem estes animais. Elas nunca os viram livres, alimentando seus filhotes. Limpando-os. Os adultos as ensinam: eles são objetos, para enfeitar, fazer casacos de pele...Infelizmente, muitas aprendem e tornam-se adultos que não deveriam existir.

Sonho com o dia em que vai ser proibido aprisionar pássaros (de qualquer origem), felinos selvagens e macacos em gaiolas. E isso vale para os criados em cativeiro (que não chegam nem a conhecer os seus pais e nascem aprisionados).

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