sexta-feira, 6 de novembro de 2009

O mundo que eu amei


Osvaldo Salermo
Este mundo não é meu, foi o que bradou Claude Lévi-Strauss em uma entrevista nos anos 90. E olha que algumas desgraceiras fundamentais ainda não ocorriam na época. Segundo ele, o mundo que amou tinha 1,5 bilhão de pessoas e esse, de 6 bilhões, não dá pra amar. Gente demais, só pode dar merda. Ou seja: muita gente pra comer e pra beber água, pra brigar por um lugar no mercado de trabalho, pra sustentar mais bocas. Mais gente rejeitada, degenerada, abandonada. E claro, mais gente pra destruir mais árvores, extinguir mais animais, poluir mares e rios.

Olha, pode me chamar de pessimista, eu não ligo. Sou mesmo. Não vejo a mínima luz no fim e nem no meio desse túnel aí. As coisas (ruins) estão acontecendo muito rapidamente e nossa geração não tem o mínimo semancol. Até porque uma mudança de verdade, para que pudéssemos deixar a coisa menos estragada, também traria conseqüências radicais, como a perda de empregos em milhares de empresas poluidoras, para citar um exemplo. Não tem ninguém macho o suficiente nesse mundo. E se tiver, sozinho não há açúcar união que faça a força. Ah, mas podemos nos unir, você vai dizer. Sei.

Ás vezes, quando escuto notícias como geleiras derretendo e milhares de ursos polares morrendo afogados, tenho vontade de ser como tantas pessoas e, sei lá, comprar um sapato de couro de crocodilo no shopping pra esquecer que não consigo ser feliz sabendo de tudo isso. Mas é tarde. A descoberta de algumas coisas é um caminho sem volta.

Ah, essas coisas enganam bem. Já falei sobre isso aqui. É uma felicidade efêmera, que dura muito pouco, essa de comprar as coisas. Comprar uma arara colorida no pet shop, para o seu filhinho brincar. Ou um macaquinho bonitinho, cuja mãe foi assassinada para que pudessem capturá-lo. Você tem dinheiro, vá em frente.

Quem vai segurar a onda – ou o tsunami – é a próxima geração. Coitados dos pivetes.

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