quinta-feira, 9 de julho de 2009

Do agreste

Já falei bastante sobre o Norte no último post e prometi que não poderia deixar o Nordeste (onde também visitei), de fora. O clima gelado de Porto Alegre, onde me encontro, não ajudaria com as lembranças, não fosse o fato de alguns lugares serem inesquecíveis.

Não falo das praias de água quentinha, nem da cor verde viva de alguns mares, nem de andar livre na própria pele por conta do clima. Mas de um modo de ser tão típico e adorável do nordestino.

Nossa ideia foi, como sempre, ir aonde não se vai, ou se vai pouco. Conheci praias e capitais, mas estava ansiosa mesmo era pelo agreste. Saber do cotidiano das pequenas cidades, o que se come e veste, como festejam. Gosto de espionar pessoas comuns, ouvir a pronúncia e reparar na construção da resposta. Aí, claro, pergunto mais ainda. E surge uma nova amizade.

Casamento coletivo em Campina Grande

Para começar, os nordestinos são excelentes comerciantes, o que explica o sucesso de alguns nas grandes capitais do sudeste. Talvez por isso mesmo o bem tratar torna-se um hábito. Alguém vai dizer que claro, é assim quando se quer vender alguma coisa. No que eu respondo: já vi comerciantes esnobes e nada esforçados tentando empurrar produtos, que até eram bons – mas sem competência. Para tudo há que se ter vocação, inclusive para a delicadeza. O que se encontra fácil por lá.

Pouco se fala da luz dos finais do dia nos vilarejos. É o pôr-do-sol do sertão, um espetáculo ausente nos cartazes das agências de turismo. Também não se fala da carne de sol, do feijão de corda ou verde embebido em manteiga de garrafa, macaxeira e farofa. Da pimenta, esplendorosa. Tudo com muito sabor, que contamina o sujeito pra sempre – eu, por exemplo, passei a adicionar farofa em tudo.

Feijão verde com manteiga de garrafa, carne de sol, macaxeira e farofa: prato típico nordestino

A imprensa pouco se ocupa dos homens e mulheres que param o trabalho duro na roça ou nos pequenos comércios com um único objetivo: o São João. E aí é pra festejar, brincar quadrilha. Alguns levam o ano todo na preparação, como em um carnaval. Mas o São João não é mega, não conta com a participação de atrizes siliconadas. É quando o sertanejo tira a única blusa do armário para encarar o “frio” de uns 20 graus. Ou resolve casar (de verdade) com mais 99 outros pares, como aconteceu em Campina Grande, no interior da Paraíba (o maior São João do mundo, segundo os locais). Cem pares de noivos, uma só bênção. Sim, porque lá ninguém vive sem Deus. É o povo mais fervoroso do Brasil.



Para se chegar a Campina Grande rumo a Caruaru (o OUTRO maior São João do Mundo, este em Pernambucano), passo por cidadezinhas e estrada de vegetação típica. No inverno, tudo verdinho. Visitamos a Feira de Caruaru. É sábado, dia de maior movimento. Lembro de Luiz Gonzaga, o eterno rei do baião, cantando “A Feira de Caruaru/Dá gosto a gente ver/De tudo o que há no mundo/Nela se tem pra vender” . E tem mesmo. Ao fundo, dá pra escutar bandas de forró que fazem sucesso no momento, com nomes como Coroné Grilo, Garota Safada e Biriteiros do Forró. E sim, dançar forró é bom demais. Peça para uma das belas morenas que encontrar por lá te ensinar. E que bom que pouco se fala, porque assim não há uma invasão de gente e eles continuam sendo exatamente assim, sem construir coisas “para turista ver”. E se você seguir o meu conselho e quiser saber do verdadeiro nordeste, não vai se arrepender. Mas vá logo, antes que mais gente descubra o que é bom.

2 Comentários:

Às 25 de julho de 2009 às 17:45 , Blogger Nina Garimpa disse...

Eu tive o prazer de conhecer este Nordeste, o agreste sergipano e o sertão baiano. Até hoje me sinto encantada com as pessoas! Elas são o diferencial destas terrinhas lindas! Parabéns por sua sensibilidade também...

 
Às 27 de julho de 2009 às 05:52 , Anonymous Maria-Sem-Vergonha disse...

Obrigada querida, volte sempre..hehe

Bjks!

 

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