Do artista e sua arte
Foto: Gerald Laing
Ainda não comprei o ingresso para o show da Amy. Estou pesquisando a melhor companhia (sim, porque para cada atividade há um tipo de amigo ideal). O meu marido, claro, não é a melhor pessoa.
Falei com outro amigo, que disse que a Amy é uma louca. Ela é, mas fiquei brava. Não acho justo quando confundem o artista com a sua arte. Imagina quantas obras eu deixaria de amar se pensasse nos defeitos dos seres humanos.
Porque Billie Holiday, Charlie Parker e - meu preferido - Chet Baker eram viciados em heroína. Já imaginou a vida sem a voz e o trompete do Chet? Quando eu chegava em casa cansadíssima no passado, com problemas em ordem alfabética. Aí o Chet cantava só pra mim. Como em "When I Fall In Love", que muita gente regravou, mas que com ele era especial. "(...) In a restless world..(nesse mundo sem descanso, o meu mundo). E tudo mudava.
Imagina só viver sem a imaginação de Júlio Verne.
Sem Reinações de Narizinho. Sem imaginar, nas noites da minha infância, um vestido feito no reino das Àguas Claras, por um caramujo como estilista. Ou sem Emília, a primeira feminista que conheci, aos sete anos.
Imagina não imaginar Tia Anastácia sendo flexada pelo cupido, por engano. Ficou apaixonada e queimou o feijão. Só me entenderá quem teve leu Monteiro Lobato.
Pois Monteiro Lobato está sendo acusado de racista, em uma época completamente diferente. Como se desse pra julgar o passado no presete. Quando penso que algumas pessoas acham que é melhor privar as crianças desses livros, morro um pouco por dentro.
Ou então Luiz Gonzaga. Depois que visitei o seu museu em Caruarú, Pernambuco, soube que foi bem safadinho - e tinha filhos em cada canto do país. Se quiser viver sem Luiz Gonzaga beleza. Eu não consigo.
Claro que vou ao show da Amy -louca e cheia de debilidades morais. Adoro sua voz, gosto da música e de seu estilo jazzy. É o que importa
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