sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

Do papai noel e outras bobagens

Com cinco anos eu não acreditava em papai noel. Com seis, menos ainda. Na cegonha também não. E quase não acreditei quando alguém explicou a verdadeira receita para se fazer bebês: parecia sem sentido e nada prático. Precisou de mais alguns bons anos para entender aquilo como uma das melhores coisas da vida.

Aquela história do senhor de casaco vermelho percorrendo o mundo em um trenó não fazia o mínimo sentido. Era verão, renas não voam, não tínhamos chaminé e crianças pobres não ganhavam presentes. E claro que quem comprava as minhas amadas bonecas era o meu pai – que, por preguiça ou distração, não se esforçava nem um pouco pra dar o crédito pro outro.

Eu me pergunto se não seria menos preto e branco ter tido essa ilusão. Mas do jeito que a história me foi passada, acho que não. Boa mesmo é a história da dona Gertrudes (abaixo).

Uma vez me levaram um gato, que tinha problemas em usar a caixa de areia. Ele me amava de um jeito muito simples e deixou um vazio insubstituível. Foi durante a noite enquanto eu supostamente dormia. Acordei chorando porque sonhei toda a cena, exatamente como depois a minha mãe contou que aconteceu. E claro que tentaram me convencer de que o bichano foi “encontrar a namorada” ou coisa do tipo. Mas era tarde. Nunca acreditei em premonições, visões, espíritos, etc. Mas eu tinha “visto” tudo e me senti traída. Foi ali que começou a desmoronar a minha fé na humanidade.

A verdade nunca é pior. Ela é simples, rápida e pode até machucar ou ofender em um primeiro momento, mas não deixa ferida, porque é o que é. Sempre trabalhei com a verdade e o faria se tivesse um filho, mesmo enquanto pequeno. Primeiro porque o mentiroso tem de ter boa memória, o que definitivamente não é o meu caso. Segundo porque os meus amigos sabem que, apesar da minha quase crueldade em alguns momentos, podem confiar na minha palavra.

Vou passar o Natal com os meus sobrinhos. A guria é realmente esperta (e sem imaginação?)– como um dia eu, modéstia à parte, fui. Já percebeu quem traz os lindos presentes que ela ganha e nunca fala em papai Noel. Vai ver é genético.

Mas vale a ilusão. É importante sonhar e imaginar. A lenda do Papai Noel já foi muito bonita. Abaixo, revelações sobre o Papai Noel de uma viagem à Penedo, do meu antigo blog:

" (...)Em um pequeno e aconchegante restaurante em Penedo encontrei uma senhora sueca. Vamos chamá-la de dona Ingrid*. Conversamos demais sobre a Suécia, que tive a felicidade de conhecer, motivada pelos cenários dos filmes de Bergman. Eu a imaginava preta e branca, ms não me decepcionei: Estocolmo é cenário para qualquer sonho!
Mas voltemos à dona Ingrid.
Ela estava revoltadíssima com a construção da “Pequena Finlândia”, empreitada, segundo as suas próprias palavras, puramente comercial. Um complexozinho para turista ver – e acreditar, já que lá tem até uma casa do Papai Noel.
Ele mesmo, o próprio. Mas não mora na Lapônia, o safado? NÃO! Dona Ingrid nos contou a verdade, toda a verdade. E olha que ela entende. Então me senti na obrigação de transmiti-la nesse blog.
O que acontece é que existiu um cara muito, mas muito legal mesmo, uma alma nobre. Como o bispo de Digne de Os Miseráveis ou o nosso Betinho, lembram dele? Esse sujeito saía entregando donativos aos pobres e dava auxílio às famílias de garotas que seriam vendidas como prostitutas pelos próprios pais e tal. Daí surgiu São Nicolau, ou St. Nicholas, que foi canonizado. Bom, acho que ele era mongol, mas se não era, fica sendo. Ninguém sabe ao certo. O fato é que levava tudo com as renas, mas vestia-se com roupas simples, quase trapos. Se bem me lembro, na descrição de dona Ingrid o moço era careca.
Foi aí que os americanos, marketeiros como são, aproveitaram a bela história verídica, deram umas adaptadas e criaram o estereótipo do velhinho de bochechas vermelhas e olhos azuis. Vai ver acharam que ficaria mais bonitinho assim. Já dona Ingrid revela que as roupas vermelhas são alusão À COCA-COLA e nada tem a ver com a Finlândia (cuja bandeira é azul e branca). E como toda a escandinava legítima que se preze, execra a “Pequena Finlândia” e tudo o que representa verdadeiramente. Em princípio os americanos pensaram no próprio país para instalar a residência do gorducho, mas as renas faziam parte da história. E que país poderia comportar de forma verossímil as renas? Finlândia, for sure! Foi aí que o Papai Noel foi parar lá na Lapônia. Conclusão: o Tio Sam fez um acordo com o país nórdico, que construiu um universo papainoelístico na terra deles pra enganar todas as criancinhas do mundo.
Bom, eu nunca acreditei nesse papo. Fui uma criança tão realista que hoje sofro de auto-piedade. Sabia muito bem que era o meu papai querido quem dava um duro danado pra comprar todos os meus regalos. Mas se tiver filhos, agora teria uma história VERDADEIRA de Papai Noel pra contar a eles, mas com todos os detalhes. Inclusive o das prostitutas. Afinal, é uma história muito mais lindinha."

* Nome fictício

domingo, 5 de dezembro de 2010

Do artista e sua arte


Foto: Gerald Laing


Ainda não comprei o ingresso para o show da Amy. Estou pesquisando a melhor companhia (sim, porque para cada atividade há um tipo de amigo ideal). O meu marido, claro, não é a melhor pessoa.

Falei com outro amigo, que disse que a Amy é uma louca. Ela é, mas fiquei brava. Não acho justo quando confundem o artista com a sua arte. Imagina quantas obras eu deixaria de amar se pensasse nos defeitos dos seres humanos.

Porque Billie Holiday, Charlie Parker e - meu preferido - Chet Baker eram viciados em heroína. Já imaginou a vida sem a voz e o trompete do Chet? Quando eu chegava em casa cansadíssima no passado, com problemas em ordem alfabética. Aí o Chet cantava só pra mim. Como em "When I Fall In Love", que muita gente regravou, mas que com ele era especial. "(...) In a restless world..(nesse mundo sem descanso, o meu mundo). E tudo mudava.

Imagina só viver sem a imaginação de Júlio Verne.

Sem Reinações de Narizinho. Sem imaginar, nas noites da minha infância, um vestido feito no reino das Àguas Claras, por um caramujo como estilista. Ou sem Emília, a primeira feminista que conheci, aos sete anos.
Imagina não imaginar Tia Anastácia sendo flexada pelo cupido, por engano. Ficou apaixonada e queimou o feijão. Só me entenderá quem teve leu Monteiro Lobato.

Pois Monteiro Lobato está sendo acusado de racista, em uma época completamente diferente. Como se desse pra julgar o passado no presete. Quando penso que algumas pessoas acham que é melhor privar as crianças desses livros, morro um pouco por dentro.

Ou então Luiz Gonzaga. Depois que visitei o seu museu em Caruarú, Pernambuco, soube que foi bem safadinho - e tinha filhos em cada canto do país. Se quiser viver sem Luiz Gonzaga beleza. Eu não consigo.

Claro que vou ao show da Amy -louca e cheia de debilidades morais. Adoro sua voz, gosto da música e de seu estilo jazzy. É o que importa

Volta da viagem

Faz tempo que não escrevo por aqui. Eu ia cometer um suicídio com este blog, mas mudei de ideia. É bom tê-lo à disposição.

Queria falar da viagem que fizemos para Natal e de como é difícil ser infeliz em um lugar tão agressivamente solar. Calor, mas o vento é constante e o clima muito agradável. Mas não conseguiria viver com tempo quente o ano todo. Nem em Natal. È uma cidade bonita demais. E eu não gosto de nada bonito demais: nem de lugares, nem de roupas, nem de casas, nem de mulheres. E muito menos de homens. Homens bonitos demais são imberbes.

Mas voltando ao Rio Grande do Norte, fiz questão de ir ao interior conhecer as rendeiras, labirinteiras e seus trabalhos em sisal. O potiguar deveria dar aulas de gentileza para o resto do país - em especial para paulistas e gaúchos. Matei a saudade do feijão de corda com manteiga de garrafa, macaxeira e farofa.

Voltei, saí da zona de conforto e iniciei um freela em um jornal diário. Nada mais destoante....

Saudades de Porto Alegre. Mas quando lembro do calor nessa época do ano, passa.