quinta-feira, 27 de novembro de 2008

Fácil


Foto: Rosemarie Trockel

O cobrador a achou bonita de batom vermelho logo de manhã. As carnes dentro da saia justa dentro do brete na catraca. Sessenta anos, seios pequenos apontando, o pau começou a incomodar na calça do uniforme, voltou a ser criança, quero mamar. Quase não passa o bilhete, tão desamparado.

Na volta à noite, no ponto final deserto, ele desceu da cadeira e sentou-se ao lado dela, que sentiu o sexo latejar no banco quente do ônibus. Deu-lhe um beijo urgente, cheio de língua e procurou a teta, o biquinho duro.

O suor de tudo misturava-se ao cheiro de óleo do motor, o que a deixava ainda mais excitada. Ele começou a enfiar os dedos em sua boceta molhada, cujas paredes apertavam e afrouxavam, os músculos agarrando firmemente. Ela apanhou o seu pau e começou uma punheta, depois chupou. Ele se contorcia, meio morto.

Inseriu levemente o dedo em seu ânus, no que ele deu um grito de prazer e a lançou com força no banco. Ela bateu a cabeça. Ele enfiou seu membro. Socou primeiro delicadamente, depois mais rápido.

-Sua boceta é peluda, do jeito que eu gosto!

Ela dava uns gritinhos agudos, enquanto ele acabava dentro dela com um tremor. Depois desabou sobre o seu corpo, deixando-a encharcada de esperma.


* * * * * * * * * * *

_Noooossa vó! Então foi assim? Não me leve a mal, a senhora está em forma, não aparenta a idade que tem...mas não imaginava que ainda sentisse...hm..tesão.

_Tesão eu tenho, lubrificação é que o problema. Mas eu ando com essa pomadinha aqui ó. A mesma que as travecas operadas usam, pras vaginas de mentira. Só não conte pra sua mãe. Ela é muito chata e vamos acabar brigando.

_Quantos anos ele tem?

_Setenta. Não perguntei, ele que foi falando: “Sabia que eu tenho setenta anos e nunca tomei Viagra? Mas quando precisar tomar, eu tomo”. Homem é um bicho besta mesmo.

_A senhora não acha que foi muito fácil? Não deveria ter esperado um pouco?

_ Isso não entendo. Fala-se das células-tronco, do primeiro presidente negro, da vida em Marte, da mulher pilotando avião e dirigindo multinacional e eu não posso dar a hora que quero? Francamente, minha querida, você mais do eu, está precisando é de sexo! Arruma um amante, que esse teu marido tem mesmo cara de ruim de cama.

quinta-feira, 13 de novembro de 2008

Compreensão



ilustração: Rosana Paulino

“Deixa-os partir. Voltarão um dia. O essencial é que tenham a sensação de fazer algo proibido...Deixa-os aproveitar o seu verão. As feridas, a sabedoria e outros embrutecimentos os farão voltar bem depressa.”*


Era uma excitação, era o primeiro! Era em toda a casa, logo que a mãe saía pra trabalhar. Até na laje, vizinho maldizendo. Chegava da escola e botava blusinha de algodão. Ele vinha confiante, suspenso pela espinha dorsal. À tardinha ela espremia as espinhas nas costas dele pelo simples gosto de o fazer.

Amancebaram no quartinho da mãe, atrás da laje. Tinham um filho e os nomes registrados no serviço de proteção ao crédito. Desempregados. O bebê chorava alto e o tempo todo, ela baixinho. Ele se chegava, queria um pouco, só um pouquinho. Pressionava.

Passou a representar, tão nova e tão bem. Gemidos, olhos, tremores, enquanto uma ansiedade reprimida sufocava por dentro. Foi numa dessas noites de amor fingido que fizeram o outro filho. O instinto materno ecoava que a melhor forma de protegê-lo era não deixar que viesse ao mundo. Fome não tem graça. Contou para ele, que a repreendeu, ameaçou contar para o padre. A mãe também pressionou: “Filho é uma bênção, como tem coragem. É pecado. Onde come um comem três.”

Dissera isso quando o outro nasceu, mas a verdade é que em alguns dias, nem comiam. Passou a odiar o marido. Não há ódio maior do que esse que sentimos quando alguém quer impor seu juízo e sua crença.
No outro dia foi na casa da mãe de anjo, hesitou. Mas lembrou-se do outro chorando de fome, tomou o “remédio” e foi em frente. Sentiu cólicas fortes e uma fragilidade tão grande que desmaiou.

Acordou com a mãe de anjo segurando na sua mão. “Não se culpe, menina. A culpa vem da falta de compreensão, que vem do conhecimento das coisas. Quando a gente sabe, compreende e o coração conserta.”
Ela, fraca e deprimida, não entendia nada, mas sentia-se precisada de seu toque suave e de seu tom de voz compreensivo. E dormiu.


* De um personagem do filme Quando as Mulheres Esperam – Ingmar Bergman (sobre a fuga de dois jovens)