domingo, 31 de julho de 2011

Saudades de escrever, limpar a alma. Sem escrever tanto tempo, um ato de menos esforço e mais felicidade, estava me sentindo meio suja. E é bom voltar à faxina, lavar os tapetes como em começo de ano, limpar os móveis, encher os sacos de lixo do cérebro com as coisas inúteis.

Melhor dia para começar impossível. Domingo cinza combinando demais com reflexão, uma xícara de café e um gato símbolo do conforto. O marido longe, eu e a solidão. Tirando algumas poucas vezes esta senhora temperamental não me incomoda, a gente estabeleceu uma amizade bonita e estranha. E eu voltando a brincar com as palavras: pega aqui, bota ali, cada uma tem um jeito, adoro quase todas. E fazer o meu bolo, meu conto, minha prosa: hoje preciso botar açúcar, ovos. Vou mexendo e mexendo, uma vírgula aqui, um ponto de exclamação, usado de forma tão banal nesses tempos herméticos de internet.

Significa mudança. As coisas mudam, elas estão mudando agora mesmo, não está vendo? Pois é, eu também não via mas agora tá tão diferente que isso também. Embora pareça igual: a cor do cabelo, a expressão. Mas se você reparar onde ninguém repara vai ver que eu mudei e você mudou e nem adianta falar que não.

Porque eu quero mais. Eu não quero comprar uma tevê de LED. Eu não quero comprar nada. Quero sentir. O gosto do arroz que eu vou fazer daqui a pouco. Fazer carinho em cachorro de armazém, na pele de um bebê. Sentir o cheiro do bebê, a loção misturada a um leve odor de fezes, que seja. Humano.

Quero voltar à Amazônia e ver todos os igarapés de novo e sentir a presença de algo tão inexplicável que vai continuar inexplicável aqui – ainda mais para um monte de gente que acha que felicidade é comprar um carrão ou um casaco de uma dessas grifes aí. Eu trocaria isso por uma tarde quase pelada no rio Tupana em tempo de cheia. Lua cheia também e céu estrelado melhor que todos os filmes. Mas falo sozinha e cada vez menos gente é capaz de entender. Tudo bem.

Como já disse, simpatizo muito com a senhora solidão. Fizemos um acordo. E um dia eu espero que tudo fique bem – que é um jeito que eu encontrei de terminar isso aqui.