segunda-feira, 19 de outubro de 2009

The sick mother, the sick brother

The Sick Child (Edvard Munch) - 1894
www.munch.museum.no

Tem sido difícil escrever, desde que, cerca de três semanas, minha mãe foi operada às pressas – e descobriram um tumor maligno em seu intestino. A perspectiva de perder a mãe (em especial para quem a tem como melhor amiga, o meu caso) não é algo que se possa explicar aqui, eu não consigo. Nem quero.
Faz você lembrar como é frágil – e que preocupar-se com coisas fúteis, além de fazer mal, é uma tremenda perda de tempo. Eu sei que esse é um clichê, mas é isso que a tristeza é: um clichezão completamente verdadeiro.

Considero as linhas acima uma vitória pessoal. Pra mim, sempre foi uma tortura falar ou escrever sobre o meu irmão, por exemplo. Fiz uma tentativa, teve um começo (um primeiro capítulo, por assim dizer) e o resultado está aqui embaixo. Mas não saiu tudo ainda. Um dia sai.

1- The Sick Brother

"Foi a parte machucada da alma que me levou à Escandinávia em setembro de 2005, onde está Oslo e o museu do pintor expressionista Edvard Munch. Seu mais famoso quadro, “O Grito” ainda não havia sido recuperado* e obviamente não estava disponível à apreciação dos turistas. Mas a intensidade da obra permanecia em minha memória desde quando, em uma das suas andanças pelo mundo, fora parar no Masp, o Museu de Artes de São Paulo, ali na Paulista mesmo.
A península escandinava (Suécia, Noruega, Dinamarca e Finlândia) é um lugar completamente diferente para um brasileiro. Parece um outro planeta, com suas cidades de ruas limpíssimas e arborizadas, suas praças bem cuidadas, seu povo loiro, introvertido, silencioso. Terra de invernos longos e de falta de luz, e talvez por isso de lá saem grandes e melancólicos artistas, cheios de temáticas existencialistas e vontades de suicídio: Ingmar Bergman, Hans Christian Andersen, o dramaturgo Ibsen e... Munch. No caso deste último, a vida foi marcada por desgraceiras como aquelas registradas nas pinturas em série, no Museu de Oslo. Quando vi os sete quadros que mostravam a irmã do pintor tuberculosa e debilitada, terminal, fui tomada de uma leve perturbação, como quando uma lembrança incômoda vem à mente. “The Sick Sister”. Quadros da minha própria vida.
Dizem que a gente aprende com o sofrimento. Disso eu não tenho dúvidas. Resta saber se há alguma utilidade em aprender certas coisas. Tenho certeza de que seria melhor passar sem saber algumas delas.
Voltei convicta de que a terrível lembrança da morte de meu irmão (de Aids, em 1997) deve me acompanhar até a minha própria morte e tento conviver com ela da melhor maneira que posso. O que não é nada fácil."

* O quadro foi recuperado e voltou a museu em 2006

segunda-feira, 5 de outubro de 2009

Da mulher moderna

Foto: Walter Carone


Uma nuvem negra sobrevoa insistentemente a minha cabeça. Mas partindo daquele princípio de que tudo passa, espero, também insistentemente, que ela se vá, como chegou. Enquanto isso (e incapaz de expressar qualquer ideia), deixo pra vocês um textinho antigo, que não conhecia o mundo, escondido que estava na gaveta. Uma breve reflexão sobre a mulher moderna.


Como sempre faço, outro dia estava xeretando a “biblioteca de mamãe”, composta de diversos livros dos mais variados temas, quando me deparei com o seguinte título: Como Ajudar Seu Marido a Ter Sucesso – na vida social e nos negócios. O ano é 1961, o que explica um pouco a auto-ajuda, bastante em moda na época (aliás, não saiu de moda, mas tudo bem). A autora, uma tal de Mrs. Dale Carnegie, tinha uma formulinha mágica para as moçoilas casadouras dos anos dourados conseguirem o projeto mais importante da vida de todas elas; um marido, com uma casa e filhos lindos e educados, tudo de comercial de margarina. Um cachorro de comercial de margarina também não seria ruim (jamais um gato, gatos são para os esquisitos); contanto que tenham uma bela área verde e espaçosa para que este possa dar uns pulinhos e se sair bem no comercial. Curiosa que sou, claro que comecei a ler a bagaça. E Mrs. Carnegie escrevia como profunda conhecedora do assunto, última palavra em psicologia de relacionamentos.
Aí vão alguns trechos com a ortografia original:

“O importante para uma espôsa é compreender a necessidade de um programa educacional para um homem que quer abrir caminho no mundo – e a necessidade de sua inteira cooperação nesse programa. O tempo e o dinheiro dispendido no aperfeiçoamento de um homem são um investimento na família futura. Quando êsse programa de educação se prolonga por um período de anos, e a esposa considera se a solidão e o sacrifício que isso lhe exigiu valem a pena, ajudar-lhe-á muito pensar que êsse sacrifício habitualmente é recompensado com o sucesso e que este é ainda a nação dos ‘self-made men’”.

(...) “A sra. Coleman é um exemplo de espôsa que trabalha com e para o seu marido (...) Certas crises na vida familiar, como débitos, doença ou perda do emprêgo do marido, algumas vêzes tornam necessário para uma espôsa trabalhar temporáriamente fora de casa. Êsse tipo de assistência é um ato da sociedade – marido-mulher na mais ampla acepção da palavra – porque ela está trabalhando para o bem da família, e não meramente para a satisfação de seguir uma carreira de seu agrado.”

Por fim, um conselho para sair da vida besta: “(...) a espôsa desempenhará melhor os seus deveres caseiros e terá melhor atmosfera mental, se mantém alguma atividade fora de casa. (...) Desde que as donas de casa necessáriamente passam muito tempo sòzinhas, outra atividades que as mantenham em contato com outras pessôas são bastante benéficas. Um curso de educação ou de costura, uma aula de apreciação musical, algumas horas na semana de colaboração para alguma sociedade beneficente, projetos como êsses dão às mulheres vivacidade mental e alargam os seus horizontes.”

Ah, sim. Isso explica de onde saíram os monstrinhos machistas que conhecemos. DE NÓS!
Que coisa.
Bom, as coisas mudaram demais, e ainda bem. Sou totalmente contra ao discurso do “antes é que era bom, a mulher mudou mas está infeliz, blá, blá, blá”. Infeliz uma pinoia. Estamos ricas, realizadas, mais bonitas e felicíssimas. Sobrecarregadas, eu sei. Mas para aquelas que têm ataques de submissão temporária, eu pergunto, do fundo do coração: você voltaria no tempo pra ficar fingindo que não tem cérebro, não tem tesão pelos caras e não gosta de ganhar o seu próprio dinheiro, meu bem? Hein? Hein?!