quinta-feira, 15 de janeiro de 2009

...em 2009

Elis e sua mente. Foto: Tufi Kanji


Este ano a minha lista de planos está pobrinha. Cada vez estou mais realista. Não queria ser realista. Queria ser otimista beirando o nonsense, sabe? Utilizar todos os recursos que fazem o ser humano suportar a si mesmo: horóscopo, cartomante, livros de auto-ajuda. As pessoas que acreditam deixam uma impressão de felicidade...
Ficam repetindo aquele mantra: “tudo vai melhorar”, mesmo em situações onde a obviedade da merda é constrangedora. Eu queria ser do tipo felizona.

O pior é que eu não gosto de gente muito feliz o tempo todo. Pensei que fosse inveja, mas não deve ser porque me dá uma vergonha alheia, acho meio ridículo.
Mas isso não tem nada a ver com os meus planos pra 2009, a saber:
1. não ter preguiça de escrever nunca mais
2. fazer uma lipo no corpo todo (impossível, não tenho dinheiro)
4. perder uns 10 quilos pra caber nas minhas roupas de 1997 que estão voltando à moda.
5. pra isso, vou ter que parar de tomar cerveja.
acho melhor parar por aqui.

terça-feira, 13 de janeiro de 2009

Bibi

Bibi espiando a vida alheia em Ubatuba


Começo 2009 com um continho do ano passado. Pediram que eu escrevesse sobre um olhar de qualquer imagem. Depois de examinar zilhões de fotos, optei por essa dos olhos verdes da Billie, a minha amada pet.

Meu nome é Billie Holiday Oliveira Petry, mas só me chamam assim, em geral com um grito, quando afio as unhas no sofá ou durmo em cima do notebook (aberto) do humano. Na maior parte do tempo sou Bibi.
Eu não tenho culpa de ter esse nome comprido, foi a humana quem colocou.
Isso porque quando toca a música dessa moça que tem o nome igual ao meu, paro o que estou fazendo, vou pra perto do som e fico lá, abrindo e fechando meus incríveis olhos (incríveis mesmo, vocês vão ver). Mas quando a humana resolve escutar eletrônico ou rap bem alto e que nem uma louca, saio correndo pra um dos meus esconderijos ultra mega secretos.

Meu lugar preferido é a janela. Se eu fosse uma pessoa, seria uma Candinha, fofoqueira ou zelador de prédio. Trago dentro de mim uma curiosidade sobrenatural que já me trouxe vários problemas. Adoro ver os carros, os motoqueiros, o vaivém das pessoas com pressa, sem pressa, alegres e tristes, de terno e de bermuda, os cachorros fazendo cocô e os donos se abaixando pra pegar. Esse, aliás, é um problema que eu não tenho, pois meus ancestrais, não sei se vocês sabem, são sagrados. De modo que não fica bem fazer as necessidades no meio da rua né?

Tenho o dom da preguiça. Um ócio tão intrínseco quanto bem aproveitado. À tarde, enrolo-me em mim mesma e nesse tempo não gosto de ser perturbada. Detesto gente mal educada e que fala alto, dia de faxina e dias nublados. Adoro banhos de sol, casa com festa, ser admirada, dormir em cima das folhas de papel com textos que a humana deixa pela casa, bolinhas. Sou auto limpante. Minha língua tem um detergentezinho, o que faz com que eu fique sempre linda de morrer e nunca cheire mal.

É sabido que os humanos existem para servir, e a minha até que é legal. É preciso ser condescendente com eles. Basta um olhar verde enigmático e repleto de auto-estima para perceberem que eu preciso de comida imediatamente, que a caixa de areia precisa ser limpa. Sou mesmo enjoada com essas coisas. Em troca, vou embelezando a casa com muita classe. Quando quero um cafuné, ligo um motor super potente e exijo que eles me façam carinho. E claro, eles fazem.

Leonardo da Vinci uma vez disse que eu sou uma obra prima. Agora me diga: com todos esses atributos, eu não sou mesmo? E apesar disso, alguns humanos não gostam da minha espécie. Não os entendo muito, tampouco eles se entendem. Está certo que eu não vou sempre que sou chamada, só quando quero. Tenho uma dignidade nata, ora bolas. Mas vou dizer uma coisa: embora minha amizade seja difícil de ser conquistada, é algo que vale a pena possuir. Só não me peça para mudar porque, como disse um compositor famoso, já nascemos livres.

Mas deixa de conversa: confere aí os meus olhos e diz: existe um verde mais verde do que o meu?