segunda-feira, 16 de março de 2009

Mexa o traseiro

Foto: /Revista Boa Forma


Resolvi. Farei tudo, tudo mesmo. Tudo significa ir à academia. REALMENTE ir. Virar mulher de bunda dura. Vai ser dificílimo, porque o meu bumbum está bem “quase quarenta anos”. E eu gosto de comer. E beber.

Mas não há saída: depois de uma certa idade, o único caminho é a sala de ginástica ou simplesmente “mexer esse traseiro”, exercícios de qualquer naipe, feitos em qualquer lugar (e não falo só de beleza, tem a saúde, lembram?). Ou se você preferir, a decadência. Não que isso seja tão ruim, é só assumir. Fazer as pazes com a má forma e pronto. Mas sabe, pensei em alguma mulher assim pra dar um exemplo aqui. Não lembrei de nenhuma.

Eu sempre tive preconceito com os adoradores de academia. Imaginava meninas com cérebros cheios de vento e homens interessados em bíceps e tríceps. Gente incapaz de tomar um copo de cerveja por motivos estéticos definitivamente não servia pra ser meu amigo. Desses, inclusive, eu ainda não gosto.

Mas devo admitir, estava errada em relação à academia. Como sempre gostei de nadar, fiz a matrícula, sempre passando longe da sala de musculação. Mas um dia cheguei atrasada e pra não perder a viagem, resolvi encarar. Fiz ainda uma daquelas aulas aeróbicas, de ficar pulando. Tem vários tipos, com nomes anglicanos que, traduzidos literalmente signifcam “combate do corpo”, “corpo pulando” e coisas do gênero.

Ah, os estereótipos... Em cinco minutos, fiz cinco amigos. Depois mais cinco. E qual não foi a minha surpresa ao ver várias mulheres rechonchudas e de riso fácil, homens barrigudinhos, carecas e simpáticos, casais de diversas idades. Sim senhor, a academia pode ser um ambiente de pessoas normais. Claro que existem as bonitonas (e os bonitões). Mas qual o problema? Fiquei amiga deles também, que assim estão porque Deus quis ou por ter mais tempo e vontade de se exercitar. Mérito deles, que estão correndo atrás da própria bunda dura. Coisa que eu vou fazer também.

terça-feira, 3 de março de 2009

Milk é necessário

Divulgação

Sexta passada fui conferir se Sean Penn merecia mesmo o Oscar por sua atuação em Milk - A Voz da Igualdade, de Gus Van Sant. Não que eu leve a premiação americana a sério. Afinal, é americana. Mas os tempos são outros, os Estados Unidos também e até premiaram artistas negros em edições passadas. Aliás, elegeram um presidente negro! Sendo assim, não custa ter fé.

Foram duas horas de ódio, tristeza, compaixão, risos. Ou seja, tudo o que se espera de um filme, que valeu cada centavo da entrada inteira que eu, que não sou estudante nem picareta, paguei.

Sean Penn está perfeito, lindo e completamente humano no papel de Milk, o primeiro homossexual assumido na política dos Estados Unidos. Seu gay não é forçado, não é caricato. Ele existe. É nosso amigo, está sentado do lado da nossa mesa, no trabalho. Anda nas ruas, paga imposto, tem religião.

A história se passa nos anos 70, época em que eu crescia. Nem preciso dizer que a palavra “homossexual” não existia no vocabulário das famílias católicas da classe-média brasileira, como a minha. Demorei pra saber o significado daquele BICHA na marchinha da cabeleira do Zezé – e claro que não me “ensinaram” de forma imparcial. Hoje vejo quantos preconceitos, dogmas, machismo e todas as fórmulas de infelicidade que existem me empurraram goela abaixo. Foi sorte eu parar um belo dia e pensar: como posso acreditar em certas coisas??!!

Pois bem: pra quem não sabe, naquela época os gays eram vistos como anomalias. Viviam ridicularizados nos programas humorísticos e isso, infelizmente, não mudou muito. Imagino qual não foi o sofrimento dessa geração. Mas enquanto aqui na terra do Lula (nos anos 70, dos militares) os homossexuais saíam escondidos, casavam (com mulheres), tinham a foto dos filhos na carteira e viviam infelizes para sempre, lá nos “esteites” um cara já tava mudando isso, beibe. E esse cara era o Milk.

Foi ele que encheu o saco de fazer tipo e recrutou vários outros que também sentiam o mesmo. “Meu nome é Harvey Milk e quero recrutá-lo”, costumava dizer. E recrutou. Um bairro, uma cidade. Gente de todo o país. Mostrou a violência oriunda de assassinos de gays, que eu chamo de “gente Uga Uga” , pessoas hierarquicamente inferiores a qualquer outro espécime vivo.

Essa luta que o Milk iniciou garante que nossos insubstituíveis amigos possam sair de mãos dadas na Paulista, trabalhar mesmo depois de assumir a sexualidade, hospedar-se em um resort gay friendly e tantas outras coisas. Claro, há muito preconceito a ser derrubado no mundo e isso não é nada fácil, mas é preciso lutar.

Você não é obrigado a gostar. Mas é obrigado a respeitar as diferenças, desculpaê. Eu também não gosto de gente que bota a culpa das próprias cagadas em Deus, coisa que muita gente adora fazer – e tenho que aturar pessoas assim o tempo todo.

Pra completar, o filme tem imagens de arquivos bem contundentes e o crème-de-la-crème dos atores da nova geração, além de Sean, que deve ter feito um puta trabalho de pesquisa: Emile Hirsch (Alpha Dog) e Diego Luna (E Sua Mãe Também), estão sensacionais.
Gus Van Sant, que eu nunca morri de amores, botou a alma nesse trabalho e conquistou o meu respeito para todo o sempre.

Enfim, um filme completamente necessário!