The sick mother, the sick brother
The Sick Child (Edvard Munch) - 1894
www.munch.museum.no
Tem sido difícil escrever, desde que, cerca de três semanas, minha mãe foi operada às pressas – e descobriram um tumor maligno em seu intestino. A perspectiva de perder a mãe (em especial para quem a tem como melhor amiga, o meu caso) não é algo que se possa explicar aqui, eu não consigo. Nem quero.
Faz você lembrar como é frágil – e que preocupar-se com coisas fúteis, além de fazer mal, é uma tremenda perda de tempo. Eu sei que esse é um clichê, mas é isso que a tristeza é: um clichezão completamente verdadeiro.
Considero as linhas acima uma vitória pessoal. Pra mim, sempre foi uma tortura falar ou escrever sobre o meu irmão, por exemplo. Fiz uma tentativa, teve um começo (um primeiro capítulo, por assim dizer) e o resultado está aqui embaixo. Mas não saiu tudo ainda. Um dia sai.
1- The Sick Brother
"Foi a parte machucada da alma que me levou à Escandinávia em setembro de 2005, onde está Oslo e o museu do pintor expressionista Edvard Munch. Seu mais famoso quadro, “O Grito” ainda não havia sido recuperado* e obviamente não estava disponível à apreciação dos turistas. Mas a intensidade da obra permanecia em minha memória desde quando, em uma das suas andanças pelo mundo, fora parar no Masp, o Museu de Artes de São Paulo, ali na Paulista mesmo.
A península escandinava (Suécia, Noruega, Dinamarca e Finlândia) é um lugar completamente diferente para um brasileiro. Parece um outro planeta, com suas cidades de ruas limpíssimas e arborizadas, suas praças bem cuidadas, seu povo loiro, introvertido, silencioso. Terra de invernos longos e de falta de luz, e talvez por isso de lá saem grandes e melancólicos artistas, cheios de temáticas existencialistas e vontades de suicídio: Ingmar Bergman, Hans Christian Andersen, o dramaturgo Ibsen e... Munch. No caso deste último, a vida foi marcada por desgraceiras como aquelas registradas nas pinturas em série, no Museu de Oslo. Quando vi os sete quadros que mostravam a irmã do pintor tuberculosa e debilitada, terminal, fui tomada de uma leve perturbação, como quando uma lembrança incômoda vem à mente. “The Sick Sister”. Quadros da minha própria vida.
Dizem que a gente aprende com o sofrimento. Disso eu não tenho dúvidas. Resta saber se há alguma utilidade em aprender certas coisas. Tenho certeza de que seria melhor passar sem saber algumas delas.
Voltei convicta de que a terrível lembrança da morte de meu irmão (de Aids, em 1997) deve me acompanhar até a minha própria morte e tento conviver com ela da melhor maneira que posso. O que não é nada fácil."
* O quadro foi recuperado e voltou a museu em 2006
www.munch.museum.no
Tem sido difícil escrever, desde que, cerca de três semanas, minha mãe foi operada às pressas – e descobriram um tumor maligno em seu intestino. A perspectiva de perder a mãe (em especial para quem a tem como melhor amiga, o meu caso) não é algo que se possa explicar aqui, eu não consigo. Nem quero.
Faz você lembrar como é frágil – e que preocupar-se com coisas fúteis, além de fazer mal, é uma tremenda perda de tempo. Eu sei que esse é um clichê, mas é isso que a tristeza é: um clichezão completamente verdadeiro.
Considero as linhas acima uma vitória pessoal. Pra mim, sempre foi uma tortura falar ou escrever sobre o meu irmão, por exemplo. Fiz uma tentativa, teve um começo (um primeiro capítulo, por assim dizer) e o resultado está aqui embaixo. Mas não saiu tudo ainda. Um dia sai.
1- The Sick Brother
"Foi a parte machucada da alma que me levou à Escandinávia em setembro de 2005, onde está Oslo e o museu do pintor expressionista Edvard Munch. Seu mais famoso quadro, “O Grito” ainda não havia sido recuperado* e obviamente não estava disponível à apreciação dos turistas. Mas a intensidade da obra permanecia em minha memória desde quando, em uma das suas andanças pelo mundo, fora parar no Masp, o Museu de Artes de São Paulo, ali na Paulista mesmo.
A península escandinava (Suécia, Noruega, Dinamarca e Finlândia) é um lugar completamente diferente para um brasileiro. Parece um outro planeta, com suas cidades de ruas limpíssimas e arborizadas, suas praças bem cuidadas, seu povo loiro, introvertido, silencioso. Terra de invernos longos e de falta de luz, e talvez por isso de lá saem grandes e melancólicos artistas, cheios de temáticas existencialistas e vontades de suicídio: Ingmar Bergman, Hans Christian Andersen, o dramaturgo Ibsen e... Munch. No caso deste último, a vida foi marcada por desgraceiras como aquelas registradas nas pinturas em série, no Museu de Oslo. Quando vi os sete quadros que mostravam a irmã do pintor tuberculosa e debilitada, terminal, fui tomada de uma leve perturbação, como quando uma lembrança incômoda vem à mente. “The Sick Sister”. Quadros da minha própria vida.
Dizem que a gente aprende com o sofrimento. Disso eu não tenho dúvidas. Resta saber se há alguma utilidade em aprender certas coisas. Tenho certeza de que seria melhor passar sem saber algumas delas.
Voltei convicta de que a terrível lembrança da morte de meu irmão (de Aids, em 1997) deve me acompanhar até a minha própria morte e tento conviver com ela da melhor maneira que posso. O que não é nada fácil."
* O quadro foi recuperado e voltou a museu em 2006